“Nosso coração diz que está viva, e não vamos parar de procurar por ela”, afirma tia
Um silêncio constante na casa cinza do bairro Cristo Rei, em São Leopoldo, já dura 30 dias e parece não ter fim. No último mês, apenas os pais de Alessandra Dellatorre, 29 anos, vivem na residência, aguardando pelo retorno da única filha ou por alguma pista que leve até a advogada. Foi dali que a jovem saiu para caminhar, em 16 de julho, e não retornou mais.
Nos últimos 30 dias, a vida de familiares e amigos de Alessandra se mistura com a agitação das buscas pela jovem, de colar cartazes em muros e postes e percorrer ruas de diferentes municípios da Região Metropolitana, além do sofrimento de uma espera que ainda não terminou.
Nesta terça-feira (16), data em que o desaparecimento completa um mês, a tia Érica Dellatorre, 49, e o namorado da jovem, Guilherme Zagonel, 28, falaram à imprensa sobre a rotina de buscas e angústia enfrentada nas últimas semanas.
Segundo Érica, familiares foram a Canoas ao menos duas vezes, após receberem informações de que a jovem teria sido vista em uma rua do município. Recentemente, os pais e demais parentes estiveram na área conhecida como Matão, onde a jovem desapareceu, fazendo buscas por conta própria.
— Os pais vão junto, com muita dor no coração, porque é muito difícil. Eles comem porque têm que comer, se vestem porque está frio, deitam um pouco porque o corpo pede. Fazem o mínimo necessário para se manter em pé, para seguir procurando pela Alessandra. O fato de ainda não termos encontrado ela nos dá força. A gente sabe que ela está viva, nosso coração diz que está viva, e não vamos parar de procurar por ela — conta Érica.
A tia relata que Alessandra saiu de casa levando uma garrafa com a bebida que costumava tomar antes das caminhadas. A jovem não levou celular nem documento ou dinheiro.
Naquela tarde de sábado, ela saiu de casa e, algumas quadras depois, entrou na Avenida Unisinos, onde caminhou pelo gramado do canteiro central. Depois, ela chegou à Avenida Theodomiro Porto da Fonseca, no local conhecido como Matão, no limite entre São Leopoldo e Sapucaia do Sul. O espaço, entre árvores altas, costuma ser usado para caminhadas, corridas e trilhas de bicicleta.
No trajeto, “Ale”, como é chamada pelos familiares, foi flagrada ao menos duas vezes por câmeras de segurança. As imagens não captam a advogada saindo do local de mata, onde equipes dos Bombeiros e da Polícia Civil fizeram buscas, sem sucesso.
— A gente levanta e vai dormir nessa busca, sem respostas. De noite, bate uma tristeza porque você vê que não teve nada novo que nos levou até ela. Aí você dorme e logo acorda de novo. Mas todo dia levantamos na esperança de encontrá-la. Então a gente pede que, se alguém a ver, nos avise, pode mandar foto, vídeo, se possível. A gente agradece muito o apoio e pede que sigam nos ajudando — diz Guilherme.
Um mês depois do desaparecimento, familiares acreditam que a jovem pode estar andando desorientada por ruas de municípios da Região Metropolitana ou do Vale do Sinos. Na tentativa de encontrá-la, a família disponibilizou um contato de WhatsApp para envio de informações, no número (51) 99771-5838.
— Alessandra é a nossa garota, é a única neta menina, em um monte de meninos. Temos uma família grande, tios, primos, que estão todos na busca. Estamos todos unidos, buscando por ela. A gente acredita que ela está viva, andando por aí em algum lugar, só precisa de uma mão amiga para achar o caminho de casa — afirma Érica.
Quem tiver informações que possam contribuir para a resolução do caso deve entrar em contato com a Polícia Civil pelo telefone 0800-642-0121.
Conforme os familiares, Alessandra levava uma vida simples e ainda experimentava como iria atuar dentro da profissão que escolheu. Recentemente, ela havia começado a trabalhar em um escritório de advocacia no município. Após quatro dias no local, no entanto, percebeu que não era o que buscava. O objetivo principal era o foco no estudo para prestar concurso.
— Ficou uns dias e logo saiu. Já percebeu que não gostou muito de atuar em escritório, viu que queria mesmo focar em concurso. Ela sempre foi assim, decidida. Se ela quer algo, não larga. Inclusive já tinha marcado dois compromissos para a semana seguinte (ao desaparecimento), pois queria também pegar a área prática da profissão — conta Guilherme.
Formada em direito desde 2017, a jovem vinha estudando diariamente para concursos há cerca de quatro anos. A rotina era focada, mas Alessandra também reservava algumas horas do dia para caminhar e correr, atividades que praticava com gosto há mais de 10 anos. Normalmente, ela fazia duas caminhadas por dia. Naquele sábado do desaparecimento, a jovem já havia feito um trajeto pela manhã e retornado para casa. De tarde, na segunda saída, ela desapareceu.
Segundo o namorado, com quem Alessandra estava há oito anos, após se conhecerem em uma festa, a jovem estava um pouco desmotivada com o estudo para concurso. Ela fazia acompanhamento psicológico.
A investigação é conduzida pela Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa de São Leopoldo. Conforme a Polícia Civil, mais de 20 pessoas já foram ouvidas ao longo da apuração. As equipes seguem realizando diligências na busca por Alessandra.
— Infelizmente, conforme o tempo passa, vão diminuindo as informações novas sobre o caso. Mas nós seguimos apurando todas as denúncias que chegam, que indicam onde ela poderia estar, e fazendo todas as diligências na tentativa de encontrá-la — afirma o delegado Cassiano Cabral, diretor da divisão de Homicídios da Região Metropolitana.
GAÚCHA ZH